Aurora boreal
Poeira

Carla Santos
2 min readNov 18, 2021

Jake Wagner — Analogue Abstraction with Light

Sem imaginar o risco, deixei você entrar. Você descobriu meus pecados entre piscadas vagarosas daquela nossa primeira madrugada. Era tão escuro o seu olhar. Escuro como o céu às 4h da manhã, preto da cor da roupa que você despiu dos meus quadris, presente como as marcas que ficaram em mim depois que você assinou seu nome na minha pele.

Fiquei sendo sua por um punhado de horas, fiquei querendo mais do seu gosto por um punhado de dias. Você me dá o castigo de acordar molhada, com as coxas coladas de tequila.

Se eu fechar os olhos agora posso sentir o perfume do tabaco queimar no ar. Tipo uma névoa sob nós dois naquela roda de conversa casual. Posso ouvir suas histórias caírem como uma luva na minha mão e eu me percebo pronta para mudar o enredo, os personagens e os finais. Você é o gelo e eu sou a aurora boreal.

Por que você me deixa intrigada? Por que você habita minha mente? Você me come e me engole na areia movediça que é a tua história e eu me afogo e me debato pra sair desse deserto.

E minha mente arde, minha boca arde de vontade de você.

Eu sei do perigo que é um feitiço, mas você, só você, prometo que não vou quebrar. Vou escolher um dos planetas e te levar lá, vou criar uma cura a partir do seu veneno, para que eu te beba toda vez que meu corpo insistir em latejar, escorrer, derramar.

De repente você faz outra vez, me olha de novo com essas íris de universo e me pergunta com o corpo qual é o segredo que eu só posso contar pra você. Mas eu não lembro mais. Quando você me beija eu não escuto o que eu penso, não meço como eu ajo, eu fico presa nessa porra desse olhar.

Me fode hoje a noite até a casa virar poeira solar.

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